Gostaria de relatar algo que presenciei e que me deixou estranhamente surpresa.
Um acontecimento simples, eu diria, mas foi justamente essa simplicidade que me comoveu.
Por volta das 16h de um feriado, eu estava assistindo TV (ou a TV estava me assistindo, com preferirem), totalmente entediada, acompanhando os minutos passando lerdamente no relógio do celular, esperando um sinal de vida que pudesse vir de qualquer parte, pra me resgatar do tédio que nem mesmo o “programa da Oprah” foi capaz de tirar!
Pois bem, cansada da posição que estava jogada no sofá e também com um pouco de “dormência mental” por ter ficado ali muito tempo, eu resolvi levantar e ver o que passava de novo na janela. Confesso que não foi essa minha grande surpresa, já que o programa da janela não era tão mais interessante que o programa da TV.
A rua estava quase deserta (e era “quase“ pelos homens que dormiam na calçada), carros passavam em número praticamente imperceptível, e quando passavam pareciam ter perdido a pressa. Eu já estava pronta pra voltar para o meu sofá quando avistei duas meninas que andavam próximas a minha calçada.
Uma delas aparentava ter seus 15 ou 16 anos poucos desenvolvidos, a outra creio que não tinha mais do que 7 ou talvez 8.
Resolvi acompanhar seus passos até onde minhas vistas pudessem alcançar. Me distrai por um breve momento com um grupo de skatistas que passou na esquina, mas foi tão breve quanto o Kickflip e o Ollie que um deles conseguiu fazer. Voltei minha atenção para as meninas da calçada e percebi que a mais velha delas estava com um sorriso tímido nos lábios, quase vergonhoso. A mais nova, sorrindo um pouco mais moleca, porém não menos envergonhada. Fiquei buscando naquela cena o motivo pra tantas reações, foi quando percebi que uma delas, a maior, estava um pouco desconfortável porque sua sandália havia arrebentado!
Nossa! Como eu não percebi isso antes? Era uma cena desconcertante aquele passo arrastado que fazia pra não ficar descalça! E até onde pude ver, um gesto de solidariedade vindo da menina menor me tirou um sorriso. Quando viu aquela situação que a outra (que eu imagino ser sua irmã) estava parou, pensou e simplesmente tirou as suas sandálias e as deu! Ficando com as sandálias arrebentadas na mão. Acredito que deva ter pensado: “ninguém vai se importar com uma criança descalça, isso é normal! Mas tenho certeza que notariam se fosse alguém maior.”
E aquele gesto simples me deixou ligeiramente emocionada e acredito que também à menina mais velha, que retribuiu pegando a outra no colo!
E as duas seguiram sorrindo até que sumiram na esquina, me deixando assistindo na janela o programa de duas meninas e um tal par de sandálias!
Talvez elas nunca saibam que eu assisti a tudo da janela do segundo andar, muito menos que eu tenha escrito sobre o ocorrido, mas sei que um dia vou cruzar novamente com essas meninas em alguma rua dessa cidade pequena e sei que vai ser inevitável, vou olhar para os pés delas!
Por Raphaela Dias
Esse texto estava salvo em meus rascunhos a quase duas semanas e hoje resolvi postar. Só porque passei por elas na rua ontem e olhei para seus pés, claro!
ResponderExcluirQue, PERFEITO! Imaginei toda a cena! MUITO bom messsmo!!! Lindo lindo lindo!
ResponderExcluirLINDOOOOOOO ! Como sempre to aqui babando minha "mãe". Teamo
ResponderExcluirVlw Lari! Sempre marcando presença nos meus comentários... rs E Ariel, tbm te amo "filhote"! rs Obrigado!
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